Proposta para currículo comum nas escolas tem pontos polêmicos

Termina no dia 15 de março a consulta pública promovida pelo Ministério da Educação para a criação de um currículo comum a todas as escolas brasileiras. A proposta feita por professores e especialistas de todo o país tem pontos polêmicos.

Especialistas convidados pelo Ministério da Educação fizeram a primeira proposta de um currículo escolar comum para as 190 mil escolas brasileiras nos ensinos Fundamental e Médio.

É a chamada Base Nacional Comum, um documento que está na internet e mostra em detalhes o que é essencial para ser ensinado em matemática, linguagens, ciências da natureza e ciências humanas.

Estados Unidos, Austrália, Cingapura, Canadá, países desenvolvidos e com bom desempenho na educação adotam um currículo padrão.

Esse documento base não está fechado, está em consulta pública até o dia 15 de março. Ou seja, todo brasileiro ainda pode mandar sugestões ao texto.

Especialistas em educação dizem em coro que o currículo padrão é, sim, muito importante para reduzir as desigualdades, mas que essa primeira versão ainda precisa de ajustes.

“Ele não pode ser uma listagem enorme de conteúdos que o aluno precisa aprender em cada série, mas aquilo que nos une como brasileiro. Aquilo que a gente não vai colocar na base é aquilo que pode entrar no projeto de cada escola, de cada região”, aponta Priscila Cruz, presidente do "Todos Pela Educação".

As maiores críticas são sobre o conteúdo. Por exemplo, historiadores que já leram o documento do Ministério da Educação dizem que uma série de fatos e eventos muito importantes na formação de civilizações no Ocidente estão fora da proposta de base curricular.

Nesta terça-feira (5), o historiador Marco Antonio Villa escreveu um artigo pulicado no jornal O Globo dizendo que "não teremos mais nenhuma aula de Mesopotâmia ou Egito", “nem filosofia grega, nascimento do cristianismo ou Império Romano". "A Revolução Industrial não é citada uma vez sequer, assim como a Revolução Francesa".

“E colocaram no lugar o que? História da África, o que eles chamam de ameríndia, uma história indígena malfeita, porque exclui toda a América do Norte. Toda a nossa vida, o nosso cotidiano aqui no Brasil hoje é pautado por essa herança ocidental, e não por essa proposta que aparece no currículo do MEC, que é uma proposta absurda, que está absolutamente descolada da construção dos cinco séculos da escola brasileira”, afirma o historiador Marco Antônio Villa.

O secretário do MEC diz que o documento é uma sugestão de professores e especialistas de todo o país e que críticas são bem-vindas.

“O próprio Ministério da Educação fez essa crítica. O ex-ministro Renato Janine, quando o primeiro documento foi apresentado e vocês devem se recordar, ele não foi publicado junto com as outras, porque houve uma crítica do Ministério da Educação. Portanto é um processo. Nós precisamos ter a convicção que é um processo que está sendo muito bem construído e que é um processo que vai nos ajudar a avançar a educação brasileira sem qualquer viés ideológico”, aponta Luiz Cláudio Costa, secretário executivo Ministério da Educação.

Denis Mizne, da Fundação Lemann, conversou conosco pela internet. Ele diz que vários países discutem e mudam o que ensinar nas escolas. E que História gera mais polêmica mesmo. Mas é apenas uma das disciplinas da base curricular.

“Eu acho que a construção da Base Nacional não é a visão deste governo. É um documento que está em debate. Que é uma demanda que vem da sociedade. Que seja feito então o debate sobre a História. Não há a menor dúvida que esse debate precisa ser feito e que tem uma visão de mundo por trás do currículo de História, em qualquer lugar, em qualquer sala de aula. Acontece hoje, inclusive. Mas a necessidade de um currículo é uma coisa que não há uma questão ideológica. É uma questão da importância disso para se conseguir avançar em educação”, comenta Denis Mizne, diretor executivo Fundação Lemann.